quarta-feira, 1 de maio de 2013


Nesta edição especial do "Fantastic Entrevista" estamos à conversa com Isabel Medina, uma das actrizes mais consagradas no nosso país. Actualmente podemos acompanhá-la em "Mundo ao Contrário" da TVI, mas estacara bem conhecida do público já fez parte de inúmeras produções nacionais, muitas delas verdadeiros marcos na ficção portuguesa. Recorde connosco a vida de Isabel Medina!

ENTREVISTA


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1 - Para além de actriz é também argumentista, dramaturga e encenadora. Já fez teatro, cinema e televisão. Se lhe pedissem para descrever Isabel Medina, de que forma o faria?
Sou, desde pequena, muito curiosa, a querer abarcar todos os conhecimentos relacionados com o Homem e o Mundo, leitora quase compulsiva, frequentadora de todos os cursos, seminários, encontros que me pudessem alargar o saber. Nasci, felizmente, em África, numa época em que Portugal vivia os cinzentos e sombrios tempos da ditadura. Aprendi com o meu pai que ignorância é escravatura, saber e informação são liberdade. Ele, que me ensinou a ler aos dois anos, queria que um dia eu pudesse viver em liberdade. A Arte é libertadora e foi esse o caminho que quis seguir. A Arte é sempre revolucionária, e foi essa a minha escolha. Tudo a que me dedico tem a ver com a criação. E sou feliz quando crio. Alimento-me, respiro, vivo. Tão simples como isto: nesta sociedade global à beira do precipício, é a criação que me dá força para continuar, e a família, força para amar.

2 – Somam-se ao longo da sua carreira dezenas de peças de teatro. Como descreve a sensação de representar num palco em oposição à representação em frente às câmaras?
Representar num palco é completamente diferente do que representar para a câmara, e ambos são estimulantes e desafiadores.  Mas até bastante tarde na minha vida, não percebia qual a graça de fazer televisão, já que eu própria não via, nem estava interessada. Por isso dedicava-me apenas ao Teatro, a essa relação tão íntima e orgânica com o público! Mais tarde, quando finalmente aceitei fazer televisão, percebi que o prazer de representar era grande, a técnica e a procura da personagem é que eram diferentes. E apaixonei-me pela interpretação frente às câmaras. Estes dois meios tão distintos – um orgânico e irrepetível (o Teatro), outro mais mecânico e perene, mas igualmente criativo e desafiador, não se podem comparar e são ambos necessários ao actor. 

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3- “Duarte e Companhia” é, hoje, uma das séries de culto em Portugal. A que se deve este sucesso?
“Duarte e Companhia” foi uma pedra no charco na programação da altura, pela irreverência, a dinâmica, o “nonsense” e a alegria que transmitiu! Foi o “Monty Python” português… Quase sem meios e com pouco dinheiro, a série venceu pela inocência e frescura, pela dedicação e boa disposição do Rogério Ceitil e de toda a equipa! E também pela conjuntura social, uma época em que eramos mais felizes.

4 - Acredita que hoje em dia seria possível produzir um fenómeno semelhante a este? 
Hoje não é impossível, mas mais difícil! Os portugueses já não são um povo feliz e perderam a inocência! Existem criadores mais jovens, inteligentes e irreverentes que estão a tentar encontrar formatos novos que possam produzir um efeito semelhante. A verdade é que as televisões generalistas têm medo de arriscar. “Odisseia” na RTP foi de louvar e, no entanto, o público não aderiu! Talvez porque já não seja capaz de perceber a graça inteligente, porque está deprimido e alienado, não sei. Mas “Odisseia” fará história na ficção de humor em Portugal. Talvez venha a acontecer num dos novos canais por cabo que saiba ousar. O Canal Q das Produções Fictícias é uma possibilidade.


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5- Fez parte das equipas que escreveram as séries “Jardim da Celeste” e “Ilha das Cores”, para a RTP2. Duas séries que marcaram duas gerações diferentes, mas que em ambos os casos provaram que é possível fazer-se programas educativos e em português. De que forma este tipo de projectos  tem impacto na vida e educação dos mais novos?
Coordenei e supervisionei as equipas de escritores dessas séries da RTP2. São ambas na linha pedagógica e lúdica da “Rua Sésamo” e tenho orgulho em ter feito parte delas. Por trabalhar com uma equipa notável, de que fazia parte a Teresa Paixão, Chefe do Departamento de Infantis e Juvenis da RTP2, uma mulher muito sábia e criativa, que teve e tem uma enorme aptidão para o cargo e que, como eu, acredita que saber e informação são o que de mais importante há para uma educação em liberdade consciente. Outra grande figura foi a Maria Emília Berderode Santos, Coordenadora Pedagógica, infinitamente culta e preparada, rodeada de uma boa equipa de psicólogas. 

Trabalhar com estas duas grandes mulheres foi definitivo para o sucesso de “O Jardim da Celeste”. Embora a Maria Emília não tenha feito parte de “Ilha das Cores”, a sua herança contribuiu para o êxito da série. Ainda hoje se reconhece o impacto das séries, já que foram produzidas com rigor, conhecimento profundo das crianças a que se destinavam, através de estudos e experiências em escolas, trabalho sério e com muito respeito por aqueles que serão o nosso futuro.

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6 – Já esteve na “Paz dos Anjos”, sofreu alguns “Desencontros”, teve “Uma Casa em Fanicos”, contou a “Lenda da Garça”, provou “Morangos com Açúcar”, mas agora está com o “Mundo ao Contrário”. De que forma relaciona os seus primeiros passos em televisão com o momento que está a viver agora, na nova novela da TVI?
Tive realmente um percurso privilegiado, já que entrei em novelas antes do começo das privadas, e numa altura em que havia um cuidado especial em produzir bons textos e em que havia mais dinheiro para os concretizar. A RTP tentava defender um serviço público de qualidade. Com a entrada das privadas e a concorrência quase desleal que a RTP quis impor perante a “ameaça” dos novos canais, esse cuidado foi perdido e abriram-se portas a muitos disparates. Por outro lado, as privadas precisavam de anunciantes e procuravam conquistá-los através de boas audiências. O Moniz passou para a TVI e ali iniciou uma programação de ficção nacional, através de novelas, que levaram a TVI ao comando da ficção em Portugal. 

Trabalho de grande mérito, que abriu mercado a actores, autores e restantes intervenientes, levando os espectadores a largar as novelas brasileiras e a voltar-se para o que é português. No entanto, julgo que houve neste empreendimento de peso, um esboroar ao longo dos anos da qualidade dos textos, repetindo-se muito a mesma fórmula e as mesmas caras. Claro que existiram óptimas novelas também. Mas a repetição cansa. Não só o público como os criadores. Julgo que, neste momento, a Direcção da TVI quer mudar a sua estratégia e alcançar públicos diferenciados para cada um dos horários: 18h00, 21h30 e 23h00. E tive a sorte de ser convidada para este “Mundo ao Contrário” em que reencontro um grande cuidado nos temas e nos textos, o regresso às novelas que se identificam com as nossas gentes, um elenco que não é repetitivo em relação aos elencos anteriores, um cuidado maior na realização e na coordenação. Sinto-me realmente orgulhosa de fazer parte deste projecto. É arriscado, audaz, contemporâneo e cheio de história e acção. Não há uma personagem que não tenha a sua linha de história e tudo se cruza! 

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7 - “Mundo ao Contrário” assume-se como uma novela diferente do habitual, mais adulta, com alguma violência, cenas de sexo e drogas, daí o horário original de exibição ser os das 23h. Como está a correr a experiência e qual a recetividade do público?
Está a correr muito bem, a ser feita com paixão e dedicação. Quanto à receptividade do público tem sido a esperada por nós. O 1º episódio foi um êxito e, ao passar para o horário a que pertence, foi subindo diariamente o que prova que o público das classes A/B está a aderir, funcionando o “boca a boca”, ou seja, uns vão trazendo outros porque, a partir do momento em que começam a ver, ficam agarrados. E garanto que a história é viciante e imprevisível.


8 - Já tinha participado numa produção irreverente e diferente daquilo a que estava habituado, porém direcionada ao público infanto-juvenil. Em “Morangos com Açúcar 3” foi a mãe da protagonista da temporada mais vista da trama. Como recorda esses momentos e como foi trabalhar com os mais novos?
Só posso dizer que nunca esquecerei “Morangos com Açucar”. Foi uma das grandes temporadas dessa série, com um elenco que perdurou, onde criei amizades para a vida, onde assisti ao crescimento de actores, onde ainda não existiam rivalidades nem vedetismos. Foi um tempo de aprendizagem e alegria, de grande conhecimento dos adolescentes daquele tempo. A Mariana Monteiro ficou a “minha filhota” até hoje. A Helena Costa, a Oceana Basílio, a Diana Chaves, o Paulo Rocha, a Inês Castelo Branco, a Sara Prata, tantos, tantos, com quem continuei a trabalhar e a  apreciar o esforço e o desejo de se tornarem cada vez melhores. A única dor foi a perda do Francisco Adam de uma forma tão trágica! 
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9- Em 2010 foi a “Glória” de “Meu Amor”, a primeira novela portuguesa a ganhar um Emmy. Depois disso, também “Laços de Sangue”, da SIC, acabou por ser premiada. Qual a importância deste reconhecimento para a ficção nacional? Acha que estamos no bom caminho na produção de bons produtos do audiovisual?
Acho que temos todas as hipóteses de competir, neste campo das novelas, com outros países que as produzem. O único problema é o investimento desigual que cada país faz. O orçamento de uma novela brasileira é capaz de ser o mesmo que temos para três novelas ou mais! Mas em criatividade, actores e técnicos, estamos em condições de ir à luta. Ainda sou do tempo em que a RTP concorria a vários festivais com filmes (agora são telefilmes, na altura eram feitos em película), séries e teatro. Ganhámos imensos prémios em diferentes festivais na Europa e na América Latina, mas pouca gente se recorda dos grandes profissionais desse tempo! É pena. Foi uma idade de ouro da ficção portuguesa. Apesar da crise, ou por causa dela, acredito que a ficção volte aos seus tempos áureos. Há gente nova com vontade de dizer coisas, há muito bons profissionais, há garra. E existe um desejo de mudança por parte dos responsáveis pelos conteúdos. “Mundo ao Contrário” é já um bom passo.

10- Quais são os projectos que se seguem, para além da telenovela?
Continuo com a Companhia de Teatro “Escola de Mulheres”, que foi (mal) financiada, mas que continua forte na persecução dos seus objectivos. Estou a terminar de escrever uma peça, mas não vou revelar ainda nada sobre ela. E espero continuar a trabalhar em televisão…



EM POUCAS PALAVRAS

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Um ídolo…    Todos os ídolos têm pés de barro. São humanos!
Um destino… Índia
Um filme…     “Sangue do Meu Sangue” de João Canijo
Uma personagem… A Blanche DuBois de “Um Electrico Chamado Desejo” de Tennessee Williams
Uma música… “You’ve Got a Friend” pelo James Taylor
Um sonho...   Vislumbrar um futuro bom para o meu neto!
Uma tentação… Uma tentação tenta-se sempre! Não fico a olhar para ela! 
A Isabel Medina é... Isabel é "portadora da Luz", Medina é "cidade velha". Isabel Medina é a portadora da Luz na cidade velha!
 

FANTASTIC ENTREVISTA - Edição 36
Convidada: Isabel Medina
Produção: André
Fantastic 2013

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