Nesta edição do Fantastic Entrevista, o nosso convidado é Rui Pêgo. O ex-apresentador do Curto Circuito, filho de Júlia Pinheiro, falou ao nosso site numa das maiores entrevistas dadas por um famoso à nossa rubrica. No dia em que a SIC emite a gala de aniversário que comemora os 20 anos de televisão, falámos com uma das caras da nova geração da estação.
ENTREVISTA
Olá Rui. Comunicar faz parte da tua vida. Aliás, faz parte da tua família. Quando surgiu esta paixão?
Olá, Fantastic! Acho que a paixão por comunicar sempre existiu. Como a corrupção em Portugal. Comecei a perceber, desde cedo, talvez, aos 8 anos, que era vidrado em pessoas. Praticava muito o chamado “People-Watch”. Adorava observar pessoas e gostava de histórias e de História. Acho que tudo isso acrescentado ao facto de ser um bocado palhaço cimentou essa paixão.
Durante vários anos foste conhecido simplesmente como 'o filho da Júlia Pinheiro' mas com a entrada no CC passaste a ter uma personalidade marcada no panorama nacional. Hoje em dia, como descreves o 'Rui Pêgo' ?
Durante vários anos foste conhecido simplesmente como 'o filho da Júlia Pinheiro' mas com a entrada no CC passaste a ter uma personalidade marcada no panorama nacional. Hoje em dia, como descreves o 'Rui Pêgo' ?
Eu não costumo descrever-me na 3ª pessoa, até porque não jogo na Académica. Mas, acho que, se tiver de me descrever, hoje, aos 23 anos, sinto que ajustei as minhas expectativas em relação ao meu percurso profissional.
Em relação à vida. E estou mais descomplexado. Faço tudo para ser melhor e falho constantemente. No entanto, sinto-me mais “eu”. (Estou à espera de uma pianada à programa de daytime - é bom que arranjem).
Talvez, se visse mais vezes o Dilema da Maya, ia saber melhor o que fazer, mas não vejo porque estou no ar, ao mesmo tempo, na Rádio SWTMN! Sendo sincero, estou numa fase muito “real”. O elixir dourado da presença em televisão esgota-se e, o dia-a-dia, faz-te lembrar que aquilo que fazes, por mais que seja uma paixão, é um trabalho. Isso é bom. Não se é diferente de um padeiro por se fazer programas de televisão.
Talvez, se visse mais vezes o Dilema da Maya, ia saber melhor o que fazer, mas não vejo porque estou no ar, ao mesmo tempo, na Rádio SWTMN! Sendo sincero, estou numa fase muito “real”. O elixir dourado da presença em televisão esgota-se e, o dia-a-dia, faz-te lembrar que aquilo que fazes, por mais que seja uma paixão, é um trabalho. Isso é bom. Não se é diferente de um padeiro por se fazer programas de televisão.
E o assunto "o filho da Júlia Pinheiro"?
Em relação, ao assunto “Filho da Júlia Pinheiro”, acho que continuarei a ser rotulado assim durante mais alguns anos. O que não faz mal. É só verdade. Podia ser pior. O meu rótulo podia ser “sem talento” ou “violador de ovelhas em Castro Marim”. Claro que acho que também “já existo”, mas o meu percurso, é, ainda, recente. São 3 anos de televisão e 2 de rádio. Já não sou bem um bébé, mas ainda escrevo nas paredes.
O que é a televisão para ti? É importante na tua vida?
A televisão é um meio poderoso para fazeres passar uma mensagem, e, como qualquer poder, apaixona-te. Agarra-te. Eu sempre quis fazer televisão, mas nunca quis ser reconhecido por isso. Sei que soa a cliché, mas é a verdade. A televisão é um teletransporte automático numa era onde ainda se demora umas horas a chegar a Bragança. Parece magia e isso é inebriante. Uma imagem bem conseguida pode abalar um governo. Assistimos a isso há uns dias.
Conseguirias viver sem ela?
Actualmente, vivo sem televisão. Trabalho em rádio. E tenho saudades, mas é como aqueles grandes amores jamais resolvidos pelo Tempo. Regressas e está tudo igual. E no fundo, sabes sempre que tu e esse amor se vão voltar a encontrar.
Achas que alguma vez foste beneficiado pelo facto de seres filho de dois grandes nomes como Júlia Pinheiro e Rui Pêgo (pai) ?
Sim. No momento da concepção. Fui beneficiado por ter crescido rodeado de amor, inteligência e talento. E generosidade. Fui sempre tratado como um adulto. Puxaram sempre pelo meu sentido de identidade e, salvo raras excepções, aceitaram os meus devaneios. Não é fácil aturar um miúdo que acha que vai receber cartas de Hogwarts, aos 10 anos, e que anda com um Atlas no bolso para chatear os teus amigos com perguntas do género: “Qual é a população do Chade?”.
Fui muito beneficiado com esta família incrível. Acredito, piamente, que tens de ter sorte até para nascer. De resto, fazes, tu, o teu caminho. Podia dar-te, tranquilamente, 10 exemplos que demonstram como sou prejudicado. Provavelmente não acreditarias. Acontece todos os meses. E sou beneficiado, certamente, por outras razões. Por ter o perfil certo para determinado programa, ou por gostar de ameixas e procurarem, exactamente, um gajo quase anão que gosta de ameixas.
Os benefícios dependem do contexto. Mas, acredita, trabalhar na mesma área do que os meus pais cria uma espécie de corrida de obstáculos. Tens de provar o dobro dos outros. Mas enfim, cada um tem a sua “cruz”. Podia ter nascido com voz de cana rachada e querer ser a Celine Dion, o que já de si denota duas coisas erradas: “Porque é que insistes em cantar? E...qual é o teu PROBLEMA para quereres ser a Celine Dion!?”
Com a entrada da tua mãe na SIC, a estação tinha tudo para mudar e subir nas audiências, principalmente no período da manhã. Até agora, "Querida Júlia" ainda não convenceu os portugueses. Porquê?
Porque o público que vê televisão àquela hora, vulgos velhinhos, não gosta de mudar de hábitos. Gostam de controlo. Como com as horas dos medicamentos. O Nimed é sempre às 4. Não às 5. Se for às 5, podem matar. Acho que existe alguma relutância, de início, a investir emocionalmente num novo programa. Não querem, estão cansados. Têm de ser seduzidos.
Depois, porque também há outra variável. Pela primeira vez, há um grande número de desempregados a ver televisão que não procuram o mesmo tipo de conteúdos que os habituais espectadores daquele horário.
Mas, à parte de tudo isto, o ponto forte é : toda a gente detesta mudar rotinas. Nem são só os velhinhos. A conversa do “odeio rotinas” é completamente mentira. Toda a gente gosta de se sentar, à mesma hora, no mesmo sítio, e ter o conforto de saber o que vai acontecer. E é o que se passa no daytime. Acho que, dentro de alguns anos, o “Querida Júlia” vai vencer. Mas, percebo que se adore o Goucha e a Cristina. Eles são muito bons. Contudo, a vida é feita de ciclos, tudo muda.
O período da manhã, em televisão e rádio, é o mais difícil de vencer. Formatos como o “Ídolos” ou a “Casa dos Segredos” somam vitórias facilmente. Basta terem um bom naipe de concorrentes e um bom chão para correrem – sem grande concorrência – e matam os outros.
Os apresentadores, nesses casos, são quase acessórios bonitos. Acrescentam, mas não substituem. No daytime não, tudo é uma corrida de fundo. Tudo diz respeito à personalidade de quem apresenta. E não só - quem vê, confia em quem lá está. Todos sabemos como a confiança demora a ser construída, certo?
Não duvido muito disto: A SIC está num processo de construção da sua identidade. Está cada vez mais robusta. E a tendência natural é que se confie em quem conhecemos melhor. A manhã... lá chegará. Confio que a manhã vai ser alvo dessa confiança.
Acreditas no método de medição de audiências em Portugal? E como viste a mudança da Marktest para a Gfk?
Sei pouco sobre o método de medição de audiências. Mas, seja Marktest, seja GFK, parece-me que o importante é saber que tipo de amostra é utilizada. Quem são estas pessoas? São completamente representativas de quem vê? 85% das pessoas que conheço não vê televisão. Estão englobadas nisso?
Daquilo que sei – e, friso, sei pouco – a GFK tem um painel mais “novo”. Mas, com tantos velhinhos... não sei. Sei que é urgente resolver isso. Toda a indústria depende do painel usado.
O que achas do panorama televisivo português actual?
Acho que vai resistindo. Estamos num momento de defesa e não de ataque. Às vezes, lembro-me do fulgor dos anos 90 e penso: será que vamos alguma vez voltar a isso? Acho que não. O que no caso de formatos como o “Perdoa-me” ou o “Bar da TV” é bom sinal.
Acho que vai resistindo. Estamos num momento de defesa e não de ataque. Às vezes, lembro-me do fulgor dos anos 90 e penso: será que vamos alguma vez voltar a isso? Acho que não. O que no caso de formatos como o “Perdoa-me” ou o “Bar da TV” é bom sinal.
A próxima guerra é na Internet. Ainda estamos a ver o começo disso. Fico entusiasmado com os canais novos que aí vêm e curioso para ver o que acontece à RTP. Em relação a conteúdos... acho que se arrisca pouco. Compreendo a razão porque se fica inibido, mas chateia-me. Há uma série de freaks com graça, e com ideias, que não têm veículos para se expressarem.
Ainda assim, acho que é uma questão de tempo. Lá voltaremos.
E qual a tua opinião sobre programas como "Peso Pesado" ou "Casa dos Segredos", que contaram com a condução da tua mãe, Júlia Pinheiro?
Acho a “Casa dos Segredos”, um formato fortíssimo. Gosto que grande parte do casting seja feito nos bares de má reputação do Cais do Sodré e toda a gente se safe com isso. O Big Brother tinha imenso poder, mas a “Casa dos Segredos” leva o jogo a outro nível.
Há alguma coisa mais forte do que um “segredo”? Para os portugueses, duvido! O espírito nacional é de porteira. Falo da porteira que gosta de comentar a vida de todos os inquilinos do prédio. Não da porteira simpática que toma conta do nosso cão. Todos gostamos de saber o que os outros dizem e de julgar moralmente quem não conhecemos. É divertido. Cria drama. E a “Casa dos Segredos” explora isso muito bem.
E nem é só isso – há, ali, uma componente de estratégia (que confesso, pouco vi na segunda edição) que torna o jogo mais interessante. O “Big Brother” era um bocado chato às vezes. Não me interessa muito
saber o que é que o Zé Maria diz às galinhas todos os dias. Já o que a
Fanny tem para dizer sobre a dívida externa...muito. A “Casa dos
Segredos” atrai mais esse tipo de figuras.
E o "Peso Pesado"?
Em relação ao Peso Pesado, acho que é um formato com mérito educacional, mas não é o tipo de coisa que me interesse muito. Como ex-gordo, simpatizo com aquela luta com o peso e com a possibilidade de mudança de vida. Acho isso galvanizante. Mas...não os quero ver a suar e a ultrapassar obstáculos na lama. Não me apaixona.
Ambicionas passar a apresentar um programa na SIC generalista?
Tudo depende do contexto e do programa. Não negaria programas como as “Noites Marcianas”, o “5 para a Meia-Noite” ou mock reality shows que brincassem com as percepções de quem vê. Também acho graça ao “Elo mais Fraco” e, não fingirei, à “Casa dos Segredos”. Faria, tranquilamente.
Já tiveste essa oportunidade em 2009, com o "SIC ao Vivo"...
O “SIC ao Vivo” foi uma experiência interessante, mas, na minha opinião, desfasada no tempo. Eu não sabia muito bem o que estava a fazer. Aquele tipo de registo parece fácil, mas não é. É duro. Acho é que serviu para perceber que, de momento, pretendo outro tipo de registos em televisão e rádio, a minha amante do Presente. Talvez volte lá no futuro. Quem sabe?
O “SIC ao Vivo” foi uma experiência interessante, mas, na minha opinião, desfasada no tempo. Eu não sabia muito bem o que estava a fazer. Aquele tipo de registo parece fácil, mas não é. É duro. Acho é que serviu para perceber que, de momento, pretendo outro tipo de registos em televisão e rádio, a minha amante do Presente. Talvez volte lá no futuro. Quem sabe?
E o que gostavas de estar a fazer daqui a 10 anos?
Não faço ideia. Não penso nesses termos. Talvez, um programa que não se conformasse. Não gosto de programas “bonzinhos” ou “com medo”. Gostava de fazer programas que não tivessem medo. Programas com dentes.
O que mais temes na vida? Porquê?
Temo a inércia. Acho que a inércia mata e podia vir listada como doença pela OMS (organização mundial de saúde). A Inércia pode imobilizar-te e não te deixar ir a lado nenhum. Nem tens energia para perder, nem para ganhar. É uma morte lenta.
Durante algum tempo, dizias no teu Facebook que a tua citação preferida era de Albert Camus. "A maior generosidade para com o futuro é entregar tudo ao presente". Achas que este é uma das tuas máximas de vida? Porquê?
As minhas citações preferidas mudam muito. Outra preferida é uma da filha do Eusébio : “O 5-3 à Coreia fez-me tirar dois cursos superiores”. Também me faz reflectir. Voltando à tua pergunta... tento que seja. Acho que estar muito no Passado e no Futuro é um vício que se controla. Tento controlá-lo. Acho que esse é um dos truques para teres a cabeça no sítio.
Que projetos já tens para o futuro?
Quero apostar na Internet, onde, com pouco dinheiro, fazes muito. Estou a preparar uns podcasts completamente sem censura. E tenho alguns formatos originais a serem avaliados por alguns canais- generalistas e cabo. Logo se vê.
EM POUCAS PALAVRAS
Quero apostar na Internet, onde, com pouco dinheiro, fazes muito. Estou a preparar uns podcasts completamente sem censura. E tenho alguns formatos originais a serem avaliados por alguns canais- generalistas e cabo. Logo se vê.
EM POUCAS PALAVRAS
O meu programa de TV preferido é... Portugueses pelo Mundo
A figura que mais gosto de ver na TV é... Fanny
A pessoa mais dispensável na nossa sociedade é... toda a gente é dispensável.
O meu maior medo é... a Veríssima não editar segundo álbum.
Arrependo-me de... ter usado a mochila da escola só num ombro. Agora, estou disforme!
A música da minha vida é... Qualquer uma da Veríssima.
A coisa que mais me irrita nas outras pessoas é... levarem-se demasiado a sério.
A coisa em mim que mais irrita os outros é... não me levar demasiado a sério.
O elogio que mais oiço é... pareces mais alto na televisão!
O Rui Pêgo é... o meu pai.
FANTASTIC ENTREVISTA - Edição 23
Convidado: Rui M. Pêgo
Produção: André e João
Fantastic 2012
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